11 DE DEZEMBRO DE 2011 - JUBILEU 50 ANOS
Homilia do III Domingo do Advento, no Cinquentenário de Nossa Senhora de Fátima

Igreja matriz de Nossa Senhora de Fátima, 11 de Dezembro de
2011
"Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias" ( 1 Tes 5, 16)
1.Estas palavras da Carta aos Tessalonicenses, hoje proclamada
na segunda leitura, situam e sintetizam perfeitamente as razões de fé, de
alegria, de gratidão e de esperança que aqui nos reúnem nesta Eucaristia.
São necessárias estas palavras, hoje, tanto quanto no tempo
de Paulo. São urgentes estas palavras ditas no coração da cidade dos homens e
sobretudo ditas para o interior do coração dos homens do nosso tempo.
Este tom imperativo de Paulo: "Vivei sempre alegres"
pode parecer-nos insensato e descabido. Também o era humanamente na cidade de
Tessalónica, como o será hoje em tantas outras cidades e terras dos homens,
sobretudo nesta Europa, envelhecida e hesitante, a viver tempos tão difíceis.
Mas S. Paulo sabia bem do que falava. Ele transportava em si as agruras da
missão e as experiências bem dolorosas de uma vida sofrida por causa das
incompreensões dos seus concidadãos, da dureza do trabalho e das inclemências
dos tempos que tornaram bem difíceis as suas viagens apostólicas. Mas S. Paulo
sabia igualmente que é possível franquear as portas de uma alegria diferente a
quantos a procuram de coração sincero.
A alegria que dura e perdura só pode brotar do milagre diário
da graça divina e da bênção que de Deus recebemos, em Cristo e pela Igreja.
Esta alegria, enraizada e firmada em Deus e fortalecida e
inspirada na fé, existe e subsiste mesmo nas circunstâncias da vida difícil. Só
este fio de alegria nascida de Deus torna possível atravessar com serenidade,
coragem e grandeza os momentos mais obscuros do coração e da vida. Precisamos
desta alegria de viver e de esperar que a fé nos dá. E porque falta a fé, falta
também a alegria e a esperança.
2.É de fé e alegria a festa que aqui nos convoca para
celebrarmos cinquenta anos da criação da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima.
Nestes cinquenta anos de paróquia, e vinte e cinco de
freguesia civil, encontramos múltiplas razões para lembrarmos os pioneiros e
empreendedores na sua criação que, por entre dificuldades e esforços,
constituem hoje o alicerce sólido desta comunidade, portadora de uma identidade
própria e consolidada, de que todos nos orgulhamos.
Sabemos que ao Bispo que decidiu a criação da paróquia,
antecipando-se à própria organização administrativa civil, D. Domingos da
Apresentação Fernandes, e ao Bispo que acompanhou desde o início a consolidação
da Comunidade e a construção e dedicação desta Igreja, D. Manuel de Almeida
Trindade, se deve juntar o nome, a memória e a imprescindível actuação pastoral
do Padre Artur Tavares de Almeida, seu primeiro Pároco.
Ele foi um homem vocacionado para o ministério pastoral de fazer
pontes e estabelecer laços de unidade e de comunhão. Ele foi o sacerdote
chamado pelo Bispo de então para esta entusiasmante e encantadora missão de
fazer erguer uma Igreja, que se eleva para o alto, e de, dia a dia, fazer
surgir uma Comunidade cristã em que crianças, jovens, famílias e idosos de
olhar levantado para Deus e de mãos dadas aos irmãos, abrissem o coração e a alma
aos horizontes da Igreja e do mundo.
Cinquenta anos vividos têm as marcas belas do tempo primeiro,
mas têm sobretudo a virtude do dinamismo da fé dos vossos pais e avós e de
todas as famílias cristãs da nossa paróquia. É à sua generosidade, determinação
e empenhamento que se deve o que hoje somos. É no altar da memória e do coração
que hoje aqui nos congregamos para celebrar os mistérios santos da nossa fé que
são também momento abençoado de lembrarmos os que já partiram e a esta paróquia
deram muito do que hoje somos.
Não esqueço, por entre tantos outros trabalhos realizados e
obras feitas, no campo da evangelização e da catequese, da celebração da fé e
da oração, da pastoral juvenil, familiar e vocacional, do serviço da caridade e
do cuidado e zelo com os mais pobres duas realidades de valor relevante. O
Centro Social Paroquial e as respostas dadas nas várias Valências e o Jornal
Notícias de Nariz e Fátima, que tem, com grande mérito e discernimento,
consolidado os laços que nos unem, alargando-nos aos horizontes de todos os
nossos concidadãos, dispersos pelo mundo da emigração.
3.Iniciamos hoje a terceira semana de Advento. A nossa
Caminhada Advento/Natal centra-se na família: Família, esperança e dom. Somos convidados a viver este tempo na
«escola do presépio». E somos convidados a construir o presépio introduzindo
nele a figura de José, o pai adoptivo de Jesus, com um sinal simbólico de uma
serra, um instrumento próprio da sua arte e do seu trabalho como carpinteiro.
Mas somos convidados sobretudo a admirarmo-nos contemplativos diante do
silêncio, da fé, da oração de confiança de José diante do mistério da
encarnação do Verbo no seio de Maria, sua esposa.
Como famílias, que somos, precisamos de aprender a falar com
serenidade e a escutar com silêncio; precisamos de ser contemplativos uns dos
outros; precisamos de reaprender o valor do trabalho, do esforço e da
dedicação, do serviço e também do sacrifício pelo bem comum e pela causa de
todos. S. José é hoje um necessário exemplo e um mestre a seguir.
A proximidade do Natal
diz-nos que Deus está próximo de nós e nos confia, através de seu Filho, a missão
de que nos falava a primeira leitura pela voz do profeta. Aliás foi esta mesma
palavra de Isaías que Jesus aplicou a Si mesmo no início da sua vida pública ao
entrar na Sinagoga da sua terra, em Nazaré.
4.Hoje é dia de acção de graças a Deus, pela Paróquia que
somos, como Comunidade cristã, Igreja de pedras vivas, verdadeiro povo de Deus,
e pela Igreja templo construído pelos nossos antepassados. Mas hoje é, também,
tempo de abrirmos o coração ao futuro e à missão de anunciar Jesus Cristo com
alegria, com fé e com novo encanto. Uma festa jubilar é sempre tempo de convite
à missão, vivida a partir deste chão sagrado da história e de olhar voltado
para o futuro, que diariamente nos surpreende em generosidade e nos desafia a
fazer sempre mais e melhor.
É assim, com um misto de gratidão e de esperança, que nós vivemos
este dia, centrados no altar da Eucaristia, celebrando os mistérios santos da
nossa fé, preparando o Natal e predispondo-nos para a missão. Cumpre-nos também
a nós: anunciar a boa nova, curar os atribulados, ser presença solícita e
solidária junto dos que sofrem e proclamar um ano de graça da parte do Senhor.
Esta é a missão da Igreja que anuncia, celebra e vive a
alegria da vinda de Jesus, o Salvador do mundo, ontem, hoje e sempre. Este é
igualmente o espírito evangelizado da Missão Jubilar que nos propomos desde já
preparar e viver, para que toda a Diocese se sinta envolvida e implicada nesta
processo evangelizador.
5.Que Nossa Senhora de Fátima, nossa Mãe e Padroeira, nos
fortaleça na alegria de tudo fazermos para que os sonhos dos pioneiros da
criação desta paróquia e construtores desta Igreja, diariamente, se realizem para
glória de Deus e bem de todos nós. Também aqui se cumpre o lema da nossa
Diocese: "Amar a Deus é servir".
+António Francisco dos Santos
Bispo de Aveiro
